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16/08/2013

Zimbábue: Para Itamaraty, resultado de eleições é confiável

Declaração do governo brasileiro contraria denúncias de organizações de direitos humanos locais

Declaração do governo brasileiro contraria denúncias de organizações de direitos humanos locais Declaração do governo brasileiro contraria denúncias de organizações de direitos humanos locais

O Brasil foi um dos poucos países a acompanhar, através do envio do diplomata Antonio Carlos da Silva Leão, as controvertidas eleições presidenciais no Zimbábue, ocorridas no dia 31 de julho. O resultado do monitoramento, que abrangeu sete seções eleitorais, não refletiu as graves denúncias apresentadas por organizações de direitos humanos locais que questionam a vitória do presidente Robert Mugabe, há mais de três décadas no poder.

Respondendo à pressão da Conectas por um comunicado oficial que detalhasse o trabalho e os resultados da missão, o Itamaraty divulgou nota afirmando que as falhas no processo eleitoral não influenciaram a expressiva maioria alcançada pelo presidente”. “Esse entendimento terá levado, por exemplo, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADS) a já ter endossado a reeleição de Mugabe antes mesmo da publicação de seu relatório final”, diz o documento.

A conclusão de organizações como a Zimbabwe Election Support Network (ZESN), que mobilizou mais de 7 mil observadores em todo o país, é bastante divergente. Para a entidade, o processo eleitoral “está seriamente comprometido por um esforço sistemático de excluir cerca de um milhão de pessoas” do pleito. Segundo a ZENS, enquanto 99,9% dos eleitores das zonas rurais, tradicionalmente alinhadas com o partido Zimbabwe African National Union – Patriotic Front (ZANU PF) de Mugabe, foram devidamente registrados para votar, nas cidades o índice foi de apenas 67,9%.

Crédito brasileiro
São justamente as zonas rurais as maiores beneficiárias da nova linha de crédito concedida pelo Brasil ao Zimbábue na semana passada. O financiamento feito pelo BNDES soma mais de US$ 98 milhões e faz parte do programa Mais Alimentos Internacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, como mostra matéria da Folha de S. Paulo publicada no último domingo. Os recursos poderão ser utilizados pelo governo zimbabuano para a compra de equipamentos agrícolas fabricados por empresas brasileiras.

“Não achamos que esses países devam ser isolados, mas é preciso ter uma discussão ampla sobre salvaguardas para esse crédito”, afirmou Camila Asano, coordenadora de Política Externa da Conectas, em entrevista ao jornal. “Trata-se de dinheiro público do BNDES, para um governo que tem um histórico de violações de direitos humanos e corrupção.” Os recursos serão enviados em três lotes com intervalos de seis meses.

Além de um importante parceiro comercial, o Brasil é o único país latino-americano além de Cuba a possuir representação diplomática no Zimbábue – o que aumenta sensivelmente sua responsabilidade frente às denúncias de violações.

Instabilidade
As eleições de junho são as primeiras votações desde 2008, quando o ZANU PF foi declarado vitorioso apesar da evidente manipulação do processo eleitoral. Naquela ocasião, mais de 200 pessoas foram mortas e pelo menos 12 mil foram vítimas de tortura por conta da disputa política – o que impeliu as duas principais forças políticas do país, o ZANU PF e o Movement for Democratic Change do primeiro ministro Morgan Tsvangirai, a formarem um governo de unidade nacional.

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