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20/10/2012

Uso da internet dá mais poder, mas impõe novos desafios para ONGs de direitos humanos

Plataformas como Youtube, Facebook e Twitter aumentam alcance de mensagens e criam novas redes, ao mesmo tempo que obrigam organizações a desenvolver novas capacidades



O uso de novas tecnologias por organizações de direitos humanos foi o tema do último dia de debates do XII Colóquio Internacional de Direitos Humanos realizado pela Conectas, na Faculdade de Direito da Fundação Getútlio Vargas (FGV), em São Paulo, com a participação de mais de 60 ativistas e acadêmicos de 39 países.

Pedro Abramovay, da Avaaz

 

 

 

 

 

 

 

 

“A relação entre Direitos Humanos e democracia é de uma tensão permanente”, disse Pedro Abramovay, diretor de Campanhas da Avaaz, descrita como maior organização do mundo de mobilização política na internet, com 14,5 milhões de seguidores.

Para Abramovay, uma coisa é certa: a informação deixou de estar concentrada em apenas uma parcela da população. Ele exemplificou ao relatar alguns cases de sucesso de algumas campanhas na web da Avaaz. Um deles foi o recolhimento de 2 milhões de assinaturas contra a aprovação do Código Florestal, enviadas à presidente Dilma Roussef e a que três ministros tiveram acesso.

A tecnologia não só deu acesso às populações mundiais a várias fontes simultâneas de informação, como também mudou a maneira desta informação ser compreendida. Segundo Abramovay, a imagem emblemática do chinês que enfrentou os tanques na Praça da Paz Celestial, em Pequim, e que se tornou símbolo da luta pela democracia, hoje não seria mais possível. Isso porque provavelmente teríamos vários fotógrafos, jornalistas e manifestantes com seus celulares posicionados nos mais diferentes ângulos da praça, enviando seus registros via web.

Assim aconteceu nas manifestações da Primavera Árabe na Praça Tahrir, no Cairo, no Egito, quando milhares de jovens egípcios enviaram imagens instantâneas ao mundo do que estava se passando naquele momento.  A pluralidade de imagens em tempo real alterou a maneira de mobilizar os manifestantes e de como a comunidade internacional passou a ver os acontecimentos, mesmo em sociedades mais fechadas.

Malika Dutt, da organização Breakthrough

 

 

 

 

 

 

“Não existe mais um monopólio sobre a visão final”, diz Abromovay. No entanto, ele alerta que também a internet traz alguns riscos, como o isolamento de comunidades em guetos, o que traz o questionamento sobre que tipo de rede queremos adotar.  Ele diz apostar na web que aproxima os diferentes e não isola os iguais.

As transformações via mundo cibernético fazem também parte da agenda da ONG Breakthrough, da Índia, conhecida mundialmente por suas campanhas de grande impacto. A indiana Mallika Dutt (veja apresentação), fundadora da Breakthrough, apresentou no seminário  algumas destas campanhas e contou as estratégias de como elas foram elaboradas.

A primeira delas, Bell Bajao (Toque a Campainha, numa tradução livre), traz um vídeo comovente em que atores interpretam uma história real de violência doméstica. O vídeo foi um sucesso na Índia e em vários outros países e provocou um intenso debate na internet sobre este tipo de violação.

Outro vídeo de sucesso foi THE CALL da campanha #I AM HERE que discute a situação das mulheres imigrantes ilegais nos Estados Unidos.

Além dos vídeos, uma forma inovadora de se discutir Direitos Humanos foi a criação de games, como o America 2049, veiculado em alguns museus americanos, como o Museu da Imigração, na ilha de Ellis, em Nova York.

Para Mallika, uma cartilha de passos a serem seguidos ajudam as campanhas atingirem seus objetivos finais. O primeiro deles é sempre estar consciente sobre o tipo de informação que se quer passar e se esta informação está contextualizada com o que está se passando no mundo naquele momento.

Em segundo lugar, a indiana diz que é preciso saber exatamente o que se deseja com a mensagem, ou seja, se ela vem para causar rupturas, impactar, mudar a ordem das coisas. Em terceiro, é necessário ser capaz de medir o impacto da campanha e se ela está alinhado com os interesses da organização. Outra sugestão é fazer um think tank entre profissionais de diversas áreas para discutir a temática da campanha antes mesmo de ela ir ao ar. Isso permite observar diferentes visões sobre um mesmo assunto.

Mallika diz que desde a fundação do Breakthrough, três pilares sempre fizeram parte da ONG: mídia, artes e tecnologia e que sem eles seria impossível alcançar tanto sucesso.

Ela apresentou ainda duas organizações que ajudam organizações de direitos humanos a trabalhar com produtos áudio visuais: a OVP (Organization for Visual Progression) e a Video Volunteers.

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