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20/09/2022

Bolsonaro usa tribuna da ONU para defender gestão

Diante de chefes de estado, presidente fez pronunciamento na abertura da Assembleia Geral da ONU em discurso em defesa de sua gestão, com imprecisões sobre Amazônia e pandemia de covid-19

Foto: Cesar Itiberê/PR Foto: Cesar Itiberê/PR

O presidente Jair Bolsonaro realizou nesta terça-feira (20) um pronunciamento na abertura da 77ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA). O espaço reservado aos chefes de Estado de todo o mundo para discutir os grandes desafios globais na promoção da paz, democracia e direitos humanos, entretanto, foi mais uma vez utilizado pelo mandatário brasileiro para realizar uma defesa de seu governo, em um discurso repleto de imprecisões, sobretudo a respeito da gestão ambiental e da pandemia de covid-19.

Ao reforçar a imagem do Brasil como celeiro do mundo, o presidente ignora a pressão do agronegócio sobre territórios e as populações florestais e o fato de que seu governo vem apresentando recordes anuais de desmatamento. De acordo com o Imazon, a partir de dados do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento), em 2022 o Brasil perdeu uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo com 10.781 km² de mata nativa destruídos — o maior índice em 15 anos. Desde 2019, início do governo Bolsonaro, a Amazônia já perdeu uma área de 32.857 km2, superior ao tamanho do estado de Alagoas.

Os dados acima contrastam com outra informação presente no discurso do presidente: a de que o Brasil estaria avançando, segundo o presidente,  “a passos largos” para o ingresso como membro pleno da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No entanto,  a política ambiental também será avaliada para a adesão do país ao bloco. As organizações da sociedade civil têm apontado que o desmonte das políticas socioambientais e ataques à democracia demonstram que o Brasil não parece disposto a adotar práticas, políticas e padrões de boa governança que a OCDE exige.

Outro tópico do discurso que se distancia da política praticada em território nacional diz respeito ao comportamento do governo em relação à pandemia de covid-19. Ao exaltar a cobertura vacinal brasileira, o presidente omite que, ele mesmo, recusou-se a vacinar, adotando uma ampla campanha de desinformação sobre os imunizantes e incentivando a população a boicotar as medidas de isolamento social encampadas pelos estados. Bolsonaro ainda minimizou a gravidade do vírus, incentivou aglomerações e fez pouco caso do uso de máscaras. 

De acordo com Camila Asano, diretora de programas da Conectas Direitos Humanos, o presidente transformou um espaço de diplomacia, diálogo e luta pelos direitos humanos em lócus para fazer a defesa de sua gestão e atacar a imprensa nacional e internacional ao acusá-la de mentir sobre a destruição da Amazônia. 

“A diplomacia brasileira tradicionalmente era motivo de orgulho e de destaque para o país perante a comunidade internacional. Entretanto, desde que assumiu o governo, o presidente Bolsonaro transformou o país em motivo de constrangimento nos corredores da ONU por seus posicionamentos pouco diplomáticos, ataques a direitos já garantidos e episódios internacionais lamentáveis”, disse Asano. 

“Não será recebido com bons olhos pela comunidade internacional o uso indevido do espaço concedido historicamente pelas Nações Unidas ao Brasil para promover um discurso majoritariamente em defesa e promoção da própria gestão para um público interno, quando o chefe de estado brasileiro deveria estar ali para apresentar as posições do país perante os grandes desafios globais”, finalizou.

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