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Os “donos” dos ventos: como a instalação de parques eólicos no sertão nordestino impacta comunidades tradicionais

Equipe da Conectas e International Accountability Project esteve na Chapada do Araripe e constatou como empreendimentos eólicos alteram a paisagem e a vida das comunidades do entorno

Parque eólico na região da Chapada do Araripe, território que compreende os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Foto: João Paulo Brito/Conectas
Parque eólico na região da Chapada do Araripe, território que compreende os estados de Pernambuco, Ceará e Piauí. Foto: João Paulo Brito/Conectas

A Chapada do Araripe está localizada na tríplice fronteira entre os estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Este enorme acidente geográfico, com cerca de 180 km de comprimento e com um multibioma composto por traços de mata atlântica, caatinga e, sobretudo, cerrado, foi historicamente habitado por povos indígenas e comunidades tradicionais, que ali permanecem até os dias atuais.

Nos últimos dez anos, boa parte deste platô, que abriga ao longo de seu território uma floresta nacional, uma área de proteção ambiental e um geoparque, teve sua paisagem drasticamente modificada com a instalação do maior complexo de parques eólicos do Brasil e um dos maiores complexos deste tipo já empreendidos em toda a América Latina. 

Inaugurado em 2017, o Complexo Ventos do Araripe III, compreendido na fronteira entre os estados do Pernambuco e Piauí, foi construído pela empresa brasileira Casa dos Ventos Energias Renováveis S.A., com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento) e do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), instituição financeira vinculada ao grupo dos Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Entre 16 e 19 de janeiro de 2020, uma equipe composta por pesquisadores da Conectas e da IAP (International Accountability Project) visitou a região, entrevistou dezenas de famílias em diversas comunidades aos arredores do Ventos do Araripe III e constatou que o empreendimento, além de alterar a paisagem, gera transtornos e divide a comunidade.

Desde sua implantação, o empreendimento é visto como sinônimo de progresso e garantia de futuro para as populações locais. De acordo com informações da própria empresa e do poder público, durante a instalação dos aerogeradores, foram gerados cerca de 1.500 empregos diretos, além de franco aquecimento da economia local.

Os mais de 156 aerogeradores, com potência de 359 MW capazes de produzir energia suficiente para abastecer 400 mil casas, foram instalados em propriedades arrendadas de 71 famílias de Araripina (PE) e Simões (PI),  abrangendo uma área de 10.200 hectares. 

Para a empresa Casa dos Ventos, trata-se de um modelo que permitiu que os moradores se tornassem parceiros do projeto e aponta que, ao todo, são mais de R$5 milhões pagos anualmente para as famílias que tiveram propriedades arrendadas.

Entre 16 e 19 de janeiro de 2020, uma equipe composta por pesquisadores da Conectas e da IAP (International Accountability Project) visitou a região, entrevistou dezenas de famílias em diversas comunidades aos arredores do Ventos do Araripe III e constatou que o empreendimento, além de alterar a paisagem, gera transtornos e divide a comunidade.

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