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05/01/2023

Brasil anuncia retorno ao Pacto Global para Migração

Antecipado no discurso de posse do novo chanceler Mauro Vieira, o governo Lula anunciou nesta quinta-feira (5) o retorno do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular em comunicado enviado à ONU (Organização das Nações Unidas) e à OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Pacaraima RR 23 08 2018 Grupo de imigrantes venezuelanos percorre a pé o trecho de 215 km entre as cidades de Pacaraima e Boa Vista.Marcelo Camargo/Ag. Brasil
Pacaraima RR 23 08 2018 Grupo de imigrantes venezuelanos percorre a pé o trecho de 215 km entre as cidades de Pacaraima e Boa Vista.Marcelo Camargo/Ag. Brasil

O país havia deixado o acordo em janeiro de 2019, no início do governo Jair Bolsonaro, alegando que o Pacto supostamente representava uma ameaça à soberania nacional. Esta decisão foi amplamente criticada pela Conectas e organizações que trabalham pelos direitos dos migrantes.

Sem vinculação jurídica, o acordo foi assinado em dezembro de 2018 por 164 países, incluindo o Brasil, para reforçar a cooperação internacional sobre migração. Ele destaca 23 objetivos como facilitar a regularização migratória, fornecer serviços básicos para migrantes e eliminar todas as formas de discriminação.

De acordo com Camila Asano, diretora-executiva da Conectas Direitos Humanos, o retorno do Brasil ao Pacto está de acordo com os princípios da Lei de Migração (13.445/17) de considerar a migração como um direito humano, e não uma questão de segurança nacional.

“O retorno ao Pacto pode ser encarado como mais um ato dos recentes revogaços de políticas anti-direitos do governo Bolsonaro e coloca o Brasil de volta como referência internacional em matéria de migração e refúgio, com voz potente nas discussões sobre o tema nos fóruns internacionais”, afirmou Asano.

Ela lembra que, ao voltar a assumir seus compromissos internacionais em migração, o Brasil beneficia também aos brasileiros que vivem no exterior, que atualmente são em número maior do que o de migrantes vivendo no país.

Em nota, o Itamaraty afirma que, em razão da saída do Pacto, o Brasil deixou de participar de iniciativas sobre a implementação do documento em 2019 e que o retorno reforça o compromisso do Governo brasileiro com a proteção e a promoção dos direitos dos mais de 4 milhões de brasileiros que vivem no exterior.

O que é o Pacto Global

Inspirado na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Global para Migração foi assinado por 164 países, entre eles o Brasil, em dezembro de 2018, em conferência que ocorreu em Marraquexe, no Marrocos.

Trata-se de um documento abrangente para melhor gerenciar a migração internacional, enfrentar seus desafios e fortalecer os direitos dos migrantes, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e expressa o compromisso coletivo dos Estados-membros de melhorar a cooperação na migração internacional.

O Pacto “reconhece que nenhum Estado pode abordar a migração sozinho e defende sua soberania e suas obrigações sob a lei internacional”. O documento apresenta uma estrutura cooperativa não juridicamente vinculante que se baseia nos compromissos acordados pelos próprios Estados há dois anos na Declaração de Nova Iorque para Refugiados e Migrantes.

De acordo com a ONU, atualmente 258 milhões de pessoas estão deslocadas ou são migrantes, o que representa 3,4% da população mundial.

O documento destaca 23 objetivos para a cooperação internacional em relação à imigração. São eles:

  1. Coletar e utilizar dados precisos e desagregados como base para políticas
  2. Minimizar os fatores adversos e os fatores estruturais que obrigam as pessoas a deixarem seus países de origem
  3. Fornecer informações precisas e oportunas em todos os estágios da migração
  4. Assegurar que todos os migrantes tenham prova de identidade legal e documentação adequada.
  5. Aumentar a disponibilidade e a flexibilidade dos caminhos para a migração regular
  6. Facilitar o recrutamento justo e ético e salvaguardar condições que garantam um trabalho decente.
  7. Abordar e reduzir vulnerabilidades na migração
  8. Salvar vidas e estabelecer esforços internacionais coordenados em migrantes desaparecidos
  9. Reforçar a resposta transnacional ao contrabando de migrantes
  10. Prevenir, combater e erradicar o tráfico de pessoas no contexto internacional migração
  11. Gerenciar as fronteiras de forma integrada, segura e coordenada
  12. Reforçar a certeza e previsibilidade nos procedimentos de migração para triagem, avaliação e encaminhamento
  13. Usar a detenção de migração apenas como uma medida de último recurso e trabalhar para alternativas
  14. Reforçar a proteção, assistência e cooperação consulares em toda o ciclo de migração
  15. Fornecer acesso à serviços básicos para migrantes
  16. Capacitar os migrantes e as sociedades para a plena inclusão e coesão social
  17. Eliminar todas as formas de discriminação e promover o discurso público baseado em evidências para moldar percepções de migração
  18. Investir no desenvolvimento de competências e facilitar o reconhecimento mútuo de competências, qualificações e competências
  19. Criar condições para os migrantes e as diásporas contribuírem plenamente para o desenvolvimento sustentável em todos os países
  20. Promover uma transferência de remessas mais rápida, segura e mais barata e promover a inclusão financeira dos migrantes
  21. Cooperar para facilitar o regresso e a readmissão seguros e dignos, bem como reintegração sustentável
  22. Estabelecer mecanismos para a portabilidade dos direitos de segurança social e benefícios
  23. Fortalecer a cooperação internacional e as parcerias globais para garantir a segurança, ordenação e migração regular

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